Dias mais coloridos =)
Antes de começar, duas observações:
1. Este texto interessa mais às mães ou a quem planeja ter filhos. É um relato longo, bastante pessoal e pouco tem a ver com imigração ou sistema de saúde canadense. Isto será assunto para o próximo post. Melhor pular se não quiser saber de detalhes excessivamente descritivos...
2. Muito obrigada por todos os comentários sobre o nascimento da Isabella. Sei que dificilmente conseguirei responder a todos individualmente, mas fiquei muito feliz em conhecer novas pessoas que acompanham o blog e saber que muitos se alegraram conosco! Obrigada de verdade!
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Na quarta-feira (9) acordei ansiosa, mais um dia e nada de Isabella... Sentia os mesmos sinais que vinha sentindo nas últimas duas ou três semanas: cólicas, dores nas costas e contrações, algumas levemente doloridas, mas a maioria sem dor. Como minha mãe e minha sogra estão aqui, e estava tentando aproveitar ao máximo a estadia delas antes do nascimento da pequena, decidi deixar o Flávio no trabalho e ficar com o carro para vermos uma exposição de esculturas de gelo do
Winterlude e irmos ao shopping. Aproveitamos a exposição pela manhã e fomos almoçar no Rideau Centre. Depois de almoçarmos fui ao banheiro e percebi um leve sangramento. Achei estranho, comentei com minha mãe e em seguida tive uma dor nas costas mais fortinha. Ainda andamos um pouco, mas fiquei cansada logo, e depois viemos para casa.
Percebi que fui tendo umas contrações doloridas bem espaçadas, algo tipo de hora em hora. Lá pelas 19h decidi marcar e vi que estavam de trinta em trinta minutos. Ainda achava que poderia ser alarme falso e não dei muita bola. Lá pelas 22h elas estavam de quinze em quinze minutos e eu comecei a achar que poderia ser de verdade. A dor era bastante suportável e todo mundo aqui em casa começou a ficar animado e querer que eu fosse para o hospital. Mas aqui eles pedem para só ir quando elas estiverem de cinco em cinco por pelo menos uma hora... Achei melhor esperar, tomar um banho, lavar o cabelo e arrumar os últimos detalhes da minha mala.
Nesse intervalo elas foram se aproximando rapidamente. Quando chegaram de cinco em cinco, por volta de uma da madrugada, ligamos para o hospital para saber se já dava para ir. Eles pediram para esperar meia hora e ir, mas meia hora depois já estavam de três em três ou dois em dois minutos! Nessa hora começaram a ficar bem mais fortes e doloridas. Fomos correndo para o hospital e no carro já estavam de um em um minuto... Aí sim, a coisa pegou e eu não conseguia ficar sentada no carro de jeito nenhum. Fui chegando e queriam fazer o cardiotoco e monitorar os batimentos dela por mais meia hora. Impossível ficar deitada durante as contrações! A bolsa rompeu lá mesmo e fui tentando arrancar a cinta do exame da barriga... Vomitava de dor e só queria ir logo para a sala de parto. No primeiro exame de toque na sala de pré-parto estava com 5 cm de dilatação e no segundo já tinha 7.5 cm.
Tinha lido bastante sobre parto normal, fizemos curso pré-natal e na minha cabeça tudo seria bem diferente, mais lento por ser o primeiro parto, com tempo para controlar a dor... Que nada! Tudo foi bastante rápido: não deu tempo de usar banheira, de usar bola de pilates, tempo de nada. Tentava respirar conforme aprendemos no curso e o Flávio tentava me deixar tranquila, mas chegou um ponto que esqueci tudo! Comecei a pedir anestesia, porque vi que não ia aguentar. O anestesista demorou horrores para chegar, foi complicadíssimo ficar parada durante as contrações para a agulhada, mas depois pelo menos tive uns momentos de alívio!
Lá pelas 4:30 já tinha dilatação total e comecei a empurrar. Foi aí que a coisa desandou. Empurrei muito, por quase duas horas e nada. O médico disse que ela poderia estar presa no canal e sugeriu o uso de pitocina para ritmar as contrações e depois de uma ventosa para puxar o bebê. Naquele momento, com dor (sim, a anestesia foi perdendo efeito) e cansada, só queria que ela nascesse... Tinha lido pouco a respeito da ventosa e decidi aceitar. Ele tentou por três vezes, os batimentos cardíacos começaram a cair e o médico sugeriu uma cesárea, por conta do risco. Me trouxeram oxigênio, vi um monte de gente chegando... Eu já estava aceitando qualquer coisa e minha mãe e o marido que estavam na sala de parto comigo estavam extremamente assustados.
Assim fui eu, para uma cesárea de emergência, tendo chegado tão perto do parto normal que sempre sonhei... Mais anestesia, e depois do primeiro corte deixam o marido entrar. Nada de fotografar ou filmar a cirurgia e depois de alguns minutos, nasce a minha filhinha. Quando ouvi o chorinho, desabei a chorar também! Não conseguia acreditar que ela finalmente estava ali e bem! Nada mais importava. Quando trouxeram para ficar uns minutinhos comigo, o tempo parou e meu coração foi tomado por uma avalanche de emoções. Ela foi examinada ali do meu lado sob os olhos atentos do marido e depois eles foram para outra sala. Lá ela fez o primeiro contato pele a pele com o papai e foi com ele para o quarto. Depois que me fecharam eu ainda fiquei mais uma hora em recuperação e fui para o quarto também. A recuperação da cesárea é estranha, fiquei bastante grogue, tive coceira por todo o corpo e aquele primeiro dia foi todo meio nebuloso, com soro, sonda e tentando conhecer melhor minha filhinha.
Se fosse fazer algo diferente, teria insistido em fazer uma ecografia particular no final da gestação. Cheguei a pedir uma autorização à médica em uma das consultas do pré-natal, mas ela disse que estava tudo bem e não havia necessidade... Acabei não insistindo. Talvez a ecografia mostrasse se uma cesárea seria mesmo inevitável. Talvez também não devesse ter aceitado a ventosa e devesse ter empurrado mais um pouco. No fim, sei que nada disso importa, porque ela está aqui, bem e saudável. Se me arrependo de ter tido o parto aqui? De forma alguma. O hospital tem uma excelente estrutura, a equipe toda foi maravilhosa e sei que se o parto normal aqui não foi possível, é porque não era mesmo para ser. Como disse, a única coisa que acho estranho aqui é a falta de ecografias no final da gravidez, já que, se tudo estiver bem, aqui só fazem uma se o bebê estiver com mais de 41 semanas e não tiver nascido ainda.
Acabamos ficando mais tempo no hospital que o previsto porque ela teve icterícia e no fim estava louca para vir logo para casa. Agora, apesar do cansaço dos primeiros dias, estar aqui com ela é bom demais e meu coração está cheio de amor! É uma delícia aproveitar esses dias de recém-nascida dela. O cheirinho, a delicadeza, as muitas carinhas e boquinhas, as mãozinhas e pezinhos em miniatura... Estamos tirando muitas fotos e quero me lembrar de tudo, porque sei que passa muito rápido. Na semana passada recebemos a visita de uma enfermeira do
CSSS, o que é procedimento padrão por aqui e tivemos uma ótima conversa. Esclarecemos muitas dúvidas, Isabella foi avaliada e recebemos muitas informações sobre a recuperação da cesárea, o desenvolvimento da nossa filhinha, amamentação e vários outros detalhes. Vai tudo bem quando tudo acaba bem!
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